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quarta-feira, 17 de março de 2010




O eco.

As horas se avançavam rumo à madrugada, enquanto ao longe cada vez mais o eco do trepidar de saltos estalando no asfalto se aproximava em minha direção. Assemelhava-se a uma perseguição. A cada instante que se avançava, aquele par de sapatos trinta e seis percorria de um lado ao outro emitindo o eco do trepidar de saltos no asfalto. Via-se através da sombra o corpo escultural situado às curvas que me cedia tons medianos. Seu busto de proporções delicadas assemelhava-se a um tom dissonante do profundo olhar que eu também sentira, embora o tom agudo de sua respiração acoplado ao som ritmado daquele par de sapatos trinta e seis, ainda me acompanhasse conforme os minutos se avançavam. O caminhar. O rebolar. O trepidar. O eco. Ocasionalmente fiquei elucido pela forma como seus olhos se contraiam quando sorria. Reparei nos cabelos negros junto a um único grampo preso ao alto da cabeça. Vislumbrei as lâmpadas de mercúrio que deixara a cidade n’um tom pastel. Amarelado. Avermelhado. Marrom. Contra a luz via-se Margot. Não sabia ao certo seu real nome. Mas Margot era um nome forte e combinante a sua imagem. Das sombras juntos nos direcionamos a iluminação de uma espelunca composta de som ‘ao vivo’ que tornava o ambiente aconchegante, intimidador, quem sabe, convidativo. Rostos familiares. Pessoas descontraídas. A estreita o cantor dissecava aquele velho repertório. Ainda assim, o eco do trepidar de saltos trinta e seis se aproximara novamente. Os saltos trepidantes que por uma fração de segundos escoaram meu coração. Margot se acomodou na mesa ao lado. Cruzou as pernas. E passou a me encarar minuciosamente enquanto eu a encarava firmemente bebericando o líquido volátil. Margot se dirigiu a minha direção. Sentou-se a minha frente. Como começamos a conversar, de fato, não interessa. E entre um gole e outro, Margot me contava como havia chego ali. Encarei-a de baixo a cima e me demorei em seu decote, profundo, milimétrico, o que lhe realçava ainda mais aquele ar de sensualidade. Neste momento, eu me encontrara perdido no vão arquitetônico entre duas taças de vinho. Imerso na meticulosa observação. Inexplicavelmente os ecos monumentais ainda sondavam minha mente. Aos poucos o eco do trepidar de saltos trinta e seis fora se afastando e ao longe eu via Margot, que depois de captar os ecos de minha alma, desapareceu. Deixando-me claro que sua fonte de beleza era justamente o mistério que me fustigava. Quem seria Margot ?


Escrito por: Louanny e Devana.

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